terça-feira, 5 de junho de 2012

A Morte do Livro Impresso

Comecei a escrever esse texto no iPhone, deitado na cama enquanto pensava o que faria para o almoço. Após algumas linhas interessantes, copiei a nota e mandei para o sistema de compartilhamento em nuvem. Feito o almoço e lavada a louça, liguei o PC e fiz o download da nota que estava viajando pelo espaço sideral apesar do PC ficar a um cômodo de meu quarto.

se sua pia está assim, você não tem permissão para estar xilicando na internet, ok?

Ok, pias a parte, a parada aqui é outra: nossa relação com a escrita e a leitura mudou, principalmente de 10 anos pra cá. O desenvolvimento tecnológico inseriu em nosso cotidiano uma grande quantidade de dispositivos que nos fizeram reviver a experiência de aprender a ler e a escrever, afinal ler um livro impresso e um e-book em um tablet é mais diferente do que você imagina!

Essa mudança no cotidiano muitas vezes não é sentida, principalmente para uma geração que cresce(u) com os usos desses eletrônicos já difundidos. Celulares, por exemplo, há 15 anos eram inacessíveis; há 10, indiferentes; há 5, imprescindíveis; e hoje, descartáveis. E esse é só um exemplo.

esse tijolo da Motorola que tinha uma bateria com autonomia de 2 ou 3 horas foi o primeiro celular comercializado no Brasil, em 1990

Com esse avanço tecnológico já se pode ouvir em vários cantos o anúncio da morte do livro impresso. Afinal, se temos iPads, Kindles, Galaxy Tabs, Tablets Xinglings, por que raios ainda existiriam livros impressos? Vou responder isso com um exemplo, que talvez, já tenha acontecido com você.

Um dia em casa, fazendo milhares de downloads de músicas, filmes e séries (todos de links legais, totalmente pagos, afinal pirataria é crime), você se depara com uma situação complicada: HD atolado de tralha!



meu HD, três dias depois de instalar Velox 300 kbps em casa no longínquo ano de 2006

Para aliviar a bagaça toda, você vai lá e grava uns DVDs de boa (“de borest”, pra quem é r00tz) e desafoga o troço, mas aí eu pergunto: vocês já tentaram abrir os arquivos de DVD 5, 6 anos depois? Esse exemplo serve também para as fotos iradas que você tirou daquela viagem que você fez e achou que, gravando num DVD elas estariam eternamente salvas. Bad news, baby!

Hoje em dia, ainda não há uma media no mercado que seja eficiente no armazenamento de longa data desses arquivos digitais (note que falei “no mercado”, pois até existem sim algumas, mas que não são tão acessíveis assim). Podemos levar isso para a questão do livro impresso. Ter o e-Book, por mais que sem gastar nada é uma experiência diferenciada do contato com o livro impresso (existem alguns disponíveis “de grátis” em sites como o da Saraiva, Gato Sabido, sempre sem pirataria, afinal saquear navios dá mó trabalho). As duas formas podem inclusive co-existir, dada as diferenças do uso e manuseio desses dois tipos, contudo, o arquivo digital, que parecia eterno, está na verdade a uma “pane” de se perder. Como os usos que se faz dos dispositivos vão além de simplesmente ler os e-Books (exceto no caso do Kindle), qualquer “vírus” causado por excesso de material suspeito (pr0n, principalmente), pode mandar pras cucuias toda a bibliografia de seu autor favorito.


le você chorando abraçado com o PC depois que o HD virou geleia. 
Trilha sonora: R.E.M. - Everybody hurts.

Hoje em dia, há alguns serviços de compartilhamento em nuvem que começam a ser conhecidos do grande público e que podem ajudar a evitar tais cagadas, como o Dropbox ou mesmo o iCloud, só não mandem seus pr0n pra lá, ok?

Vocês já viram “O dia depois de amanhã”? Não, não sou clinicamente autista, apesar de meus familiares acreditarem nisso até os 13 anos e até onde eu sei, não tenho D.D.A., T.O.C., Bipolaridade ou qualquer doença da moda. Voltando ao filme, há uma cena nesse clássico da Temperatura Máxima (não assisto Sessão da Tarde, sou responsável – mentira!), em que, ao se abrigarem na biblioteca e terem que queimar livros para suportarem o frio, um dos personagens se nega a queimar um exemplar da Bíblia cristã, impresso por Gutemberg há 500 anos. Tá, o filme não é lá essas coisas toda, mas esse elemento pode nos dizer muito mais sobre a importância do livro impresso para nossa sociedade do que podemos imaginar. Nem é o caso de uma perspectiva religiosa, é muito mais por que a Biblia Cristã foi o primeiro livro impresso por Gutemberg, mas o conhecimento do mundo ocidental vem se articulando através do formato impresso há séculos, diferentemente do forte caráter de oralidade do oriente, por isso a figura dos "mestres" são tão importantes por lá. No fim das contas, declarar a “morte do livro impresso” é na verdade declarar a morte da construção do conhecimento no ocidente. Inegavelmente, há mudanças acontecendo, mas nenhuma delas matará o livro impresso, acredite.

Ah! E sobre o lance que tanto falam, sobre quando se adquire um livro, pelo cheiro e manuseio, faço minhas as palavras do poeta Renato Russo: “Parece cocaína, mas é só um livro novo”.


1 comentários:

Helaina Carvalho disse...

Também concordo que o livro impresso nunca irá acabar. Pra mim mais pelo prazer e a falta de conforto pra ler em PC e notebook (tablet eu não tenho). Espero que as editoras sempre lembrem da gente!

Tem post novo no meu blog:
http://hipercriativa.blogspot.com/
Passe por lá se tiver um tempinho!
Desde já agradeço a visita!

Beijussss;

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