Amanhã o povo irá às urnas e 4 anos serão traçados pelos nossos votos. Entretanto, gostaria que vocês fossem, se possível, com essas palavras de Rubem Alves na cabeça e, com elas, duas dicas de livros relacionados com o tema:
Tão
bonita, a idéia da democracia! Melhor não há. Os
cidadãos, educados, conscientes das suas necessidades,
no exercício da sua liberdade, sem compulsões, sem
enganos, escolhem por meio do voto aqueles que serão os
seus representantes. Na cidade, os vereadores, no
estado, os deputados estaduais, no país, os deputados
federais e os senadores. Nada mais transparente. Nada
mais honesto.
E
os representantes do povo, dominados por um único ideal:
trabalhar para o bem comum. No ato de se aceitarem como
representantes do povo eles deixam de lado a sua
vontade, os seus interesses privados, particulares.
Tornaram-se depositários da vontade do povo. Quando
pensam e agem não pensam e agem de acordo com os seus
interesses. Apenas uma pergunta informa o seu pensar e o
seu agir: “É do interesse do povo?”
É
assim que eu quero. É assim que todo mundo quer. Como é
linda a democracia quando escrita no papel! O problema é
que o que está escrito não é aquilo que é vivido. O
poder corrompe os ideais.
Há uns tipos geniais que são capazes de ensinar a
política não como malandragem, não como ciência, mas
como literatura. É o caso de George Orwell. Um dos seus
livros é o "1984". Quando ele o escreveu o ano de
1984 estava tão longe! Orwell percebeu como ninguém que
o poder é um jogo no qual a peça mais poderosa é a
linguagem. É através da linguagem que o poder domina as
pessoas por dentro. A paixão por um partido é um caso de
perturbação psicótica da linguagem. O apaixonado
alucina: toma a linguagem por realidade. O que se ama é
aquilo que a linguagem marcou dentro de mim. Não se vota
num candidato. Vota-se naquilo que se diz sobre ele. As
CPIs são todas arenas onde se travam batalhas da
linguagem. É a linguagem que dá credibilidade ao poder.
Mas Orwell escreveu também um livrinho bem pequeno, uma
fábula que até as crianças entendem, "Animal Farm"
(em português: "A Revolução dos Bichos") que é uma
delícia de clareza, sutileza, humor e terror... É a
estória dos bichos de uma fazenda, cavalos, porcos,
vacas, cabritos, patos, gansos, cachorros...Cansaram-se
de ser explorados pelo fazendeiro e resolveram fazer uma
revolução. Juntos, unidos, expulsaram o fazendeiro aos
coices e dentadas. Estava terminada a primeira fase da
revolução. Segunda fase: Era preciso que as leis fossem
claras e transparentes e que expressassem a vontade de
todos os animais. Para o conhecimento de todos, elas
foram pintadas em letras enormes na parede de um paiol.
A primeira lei era: “Todos os bichos são iguais”.
Terceira fase: Quem serão os líderes? Terão de ser
escolhidos democraticamente. E assim foi ( não vou
contar quais foram os bichos escolhidos para líderes...)
. Entretanto, depois que os líderes se assentaram no
poder, coisas estranhas começaram a acontecer. Por
exemplo: num belo dia, ao acordar, os animais viram que
a primeira lei havia sido modificada. Estava lá escrito
na parede do paiol: “ Todos os bichos são iguais. Mas
alguns bichos são mais iguais que os outros...” Não vou
contar o fim da parábola. O que importa é que Orwell
percebeu a armadilha do poder: depois que se dá a um
grupo o poder para determinar as leis, não há formas de
impedir que ele estabeleça as leis que lhe são
convenientes. Os que eram antes oprimidos, de posse do
poder, se transformam em opressores.
Será essa a ironia
da história, que cada luta pela liberdade se transforme
sempre numa nova forma de opressão? Parece que só pode
ser partido ético o partido que não está no poder. O
poder cria imperativos de outra ordem.
Pois bem, ele conclui citando Albert Camus (pronuncia-se "Camí"):
“Já se disse que as grandes idéias vêem ao mundo
mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com
atenção, escutaremos em meio ao estrépito dos impérios e
nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da
vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança jaz
numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário,
que ela é despertada, revivificada, alimentada, por
milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho,
diariamente negam as fronteiras e as implicações mais
cruas da história. Como resultado brilha por um breve
momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo
homem, sobre a base de seus próprios sentimentos e
alegrias, constrói para todos.”
Ainda há esperança, de fato, ela nunca nos abandonou. Escolham bem neste domingo!
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