No "longínquo" início do século XX, em plena
Primeira Guerra Mundial, um inferno se estendia em solo europeu durante
centenas de quilômetros de trincheiras. Soldados se digladiaram durante meses,
sem descanso, sem esperanças, sem amor... Uma grande área deserta, constantemente
bombardeada e conhecida como "Terra de Ninguém", era o palco das mais
terríveis atrocidades já vistas pelo homem e o cenário dessa história.
A Mãe de todas as Guerras havia começado e os homens já
haviam visto coisas demais para se descrever sem que lágrimas escorram por
nossas faces e, eles não possuíam a mínima ideia de que, aquela insanidade se
estenderia por mais quatro longos anos. Era noite de Natal. Uma trégua havia
sido combinada pelos dois lados para que se respeitasse aquela data e as festas
pudessem ocorrer, se é que havia motivo para se ter uma... Então algo
aconteceu.
Os soldados começam a largar fuzis, metralhadoras, granadas
e o seu desespero para saírem dos buracos que a Guerra havia fabricado e andarem
na desolação entre as duas frentes de combate. O intuito? Apertar as mãos de
seus supostos “adversários” e comemorar tão bela data, compartilhando
angústias, aflições, sonhos... Viraram amigos ao final da noite.
No outro dia, quando a Guerra exigia a sua dose diária de
sangue, algo de estranho havia se espalhado naquele ambiente podre e violento...
Uma sensação que há meses nenhum dos lados sentia, um sentimento de que não
havia motivos para se retirar a vida de uma pessoa que compartilhara comigo o
alimento e a bebida no dia anterior e, afinal de contas, não era tão diferente
assim de mim. Nenhum tiro foi disparado naquele dia. Nem no posterior. E, quando
os superiores deram ordens para os subalternos atacarem ou seriam punidos...
Nenhum obedeceu e a punição se tornou impraticável.
Retiraram-se as tropas dos dois lados e substituíram por
novos homens, pois aqueles haviam sido “corrompidos” pelo espirito do Natal e
da amizade e não lutariam mais. E, na loucura dos homens cegos de poder, as
balas voltaram a cruzar o céu por aqueles que não tiveram seus olhos abertos na
noite de Natal.
Eu sonhava que se mais de nós cuidássemos e zelássemos pelos
que estão próximos e oferecessem uma mão quando alguém mais necessitasse, não
moraríamos em um mundo tão carente desse espirito que nos inunda, infelizmente,
uma vez ao ano. Quando conheci essa história percebi que, afinal, meu sonho não
era tão difícil de realizar se todos desejassem participar. Percebi que ainda
existe esperança para a nossa sociedade, mesmo que muitos não a vejam
(inclusive eu), porém, inexplicavelmente, ainda acredito que ela está lá...
Esperando alguém que a encontre novamente. Quem sabe não seja você?
Um Feliz Natal a todos e que Deus, Alá, Jeová ou as estrelas
mesmo abençoem todos nós e nos iluminem durante nossas vidas.
Victor Alves Magalhães
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